Montag, Juni 30, 2008

Nós e a Sächsische Staatskapelle Dresden - II



Larga tudo, vem comigo, vive comigo e sejamos felizes para sempre. Assim. Sem mais. Atiras-me isso enquanto absorvo os últimos acordes do espectáculo. A minha cara responde instintivamente aos impulsos gerados pelo meu cérebro. Muito espanto, uma meia-dose de ironia e uma pitada de humor, é a receita. O resultado? A minha gargalhada desarma-te. À minha metáfora sobre o café, rendes-te.


O descafeinado vira-se para o café e diz-lhe que quer muito descobri-la. Encontrá-la. Absorvê-la. Senti-la. "E isto tudo, contigo meu caro café. Só contigo" À pergunta "Quem é ela?", o descafeinado diz simplesmente: a cafeína. E isto com uma sinceridade que doía só de ver a sua ingenuidade.

Entendes agora? Entendes o ridículo do que pedes. Algo que não podes ter. Que não queres ter. Aliás, esse é um pedido camuflado. O que queres mesmo, é aquilo que te digo agora: sejamos amigos. Na verdadeira acepção da palavra. Daltónicos. Sem cores.

E sim, digo-te eu. Sejamos. Porque isto que vivemos até agora, esta falsidade, já nada é. Nem sexo é, pois a minha impotência assim o obriga. E ainda bem, vinco eu. O sexo só tolhe a nossa capacidade de raciocínio (lógica, entenda-se) nestes momentos. Perdoa-me a rima fácil, mas sem sexo tudo tem (MUITO mais) nexo.

Donnerstag, Juni 12, 2008

Nós e a Sächsische Staatskapelle Dresden - I



O concerto foi a desculpa ideal para nos encontrarmos. Mais uma vez ...escondidos. Do teu marido, dos teus filhos, da tua vontade de desaparecer comigo, das tuas dúvidas, de tudo e mais alguma coisa. Mais uma vez chegas atrasada. Logo hoje, que queria chegar a horas (tal como faço sempre que vou sozinho). Logo hoje, que pela 375.ª vez chegas atrasada a um encontro nosso. Indigno-me em silêncio. Mais uma vez.
Em virtude do teu atraso, já não podemos assistir (ao vivo) à 1.ª parte. Assistimos num televisor, numa salinha ao lado. Ao lado da excelência dos 80 músicos que tocam na sala principal. Ao lado da acção e da verdadeira acústica. Ao lado. É assim que me sinto. E dou por mim a pensar na nossa relação. Será sempre assim? Lateral? Sempre a passar ao lado da acção principal?
Menos mal, dizes-me tu. Há dois homens ao nosso lado, que também chegaram atrasados. Não quero saber, respondo-te. Além disso, dá toda a ideia de eles formarem um casalinho. Um com um aspecto mais jovem e descontraído. O outro, mais hirto e rígido na sua maneira de vestir. A sua cumplicidade prova que a minha teoria está certa. Importa-te isso? Perguntas-me admirada. Não. Nada. No entanto, quando os outros são felizes na sua relação procuro descortinar as razões. Quero descobri-las também.
Irrito-me. Irrita-me essa tua displicência com as horas. Irrita-me que uma orquestra fundada em 1548 não tenha conseguido fazer-te chegar mais cedo. Irrita-me que não consiga ver a belíssima violinista que a orquestra acompanha. Irrita-me a felicidade do casal homossexual. Irrita-me que tenhamos recebido um certificado pelo facto de termos chegado atrasados. Há quase 6 meses que ninguém chegava atrasado à "Semperoper". E tu? Contente da vida. Vês? Até ganhamos um certificado. O intervalo chega. Ainda bem. Já não suporto a tua felicidade falsa. Contentas-te com muito pouco.